quinta-feira, 3 de maio de 2012

[RESENHA] : Relatos de um calango do cerrado.


            Todos estavam empolgados com o que deveria ser o maior festival do Metal do Brasil, sendo de notoriedade internacional, muitos garantiram com bastante antecedência sua ida ao Metal  Open Air, que prometeu trazer um belo presente ao fiel público do nordeste e a todos os headbanguer’s do Brasil.
             Muitas matérias tem destacado o fiasco que foi o evento, mas eu prefiro expor o meu ponto, já que eu estava lá e vi pessoalmente como tudo se desenrolou (ou enrolou de vez).
             Cheguei em São Luiz do Maranhão ás 01:05 da manhã de Sexta-feira, madrugada ainda, encontrei algumas pessoas que tbm iriam acampar. Chegamos no Parque Independência, ficamos surpreendidos com a organização. Infelizmente de forma negativa. Os seguranças do local, obviamente muito mal preparados apenas conferiram o nome no bilhete e nem documento de identificação pediram.
Foto: Alesson Campos/ Mercado do MOA
             Caminhei junto com meus novos amigos para área de camping e me surpreendi juntamente com eles quando nos deparamos com a falta de preparo da maioria dos funcionários de apoio, o local estava desorganizado e não existia uma comitiva nem ninguém da produção para receber os campistas. Ninguém do apoio sabia de nada, um mercado bem pequeno foi montado para que pudéssemos nos alimentar, mas a variedade era nada comparada a gama de pessoas no local e a qualidade dos produtos notoriamente nada condizentes com a necessidade dos campistas. 
                O camping indoor era uma área de estábulos, mas ao contrário do que vi nos jornais era a única parte limpa e organizada que existia no MOA. Depois de montar minha barraca e guardar minhas coisas fui dar uma volta para reconhecer o local.
Foto: Alesson Campos/ Camping
            O banheiro masculino estava aberto, mas o pessoal que chegou cedo falava de pessoas que tiveram que tomar banho em uma espécie de tanque que diziam ser aonde os cavalos bebiam água. Ás 02:00 da manhã da Sexta -feira os banheiros estavam abertos, porém cobertos de lama e um horrível odor de urina. Eu estava curioso para ver o lago, pois apesar de ser madrugada fazia um calor ao qual não estou acostumado, imaginei que durante o dia/tarde seria pior e eu iria me refrescar no lago que o site dizia.   O Lago era uma imensa poça de lama cercada completamente abandonado. Mais pessoas chegavam no local, sempre com reclamações, já era de se esperar coisas ruins para aquele dia.
Foto: Alesson Campos/Lago
            Quando sai do camping rumo a direção dos palcos notei que a cerveja estava chegando, e as barracas que a venderiam estava acabando de ser montadas, no palco o equipamento estava sendo montado e testado, mas não o equipamento de som. Conversei com os caras que ali estavam, eles disseram ser responsáveis pela iluminação e não pelo som, e como era de se esperar não havia ninguém da produtora supervisionando o trabalho ou esclarecendo duvidas. Ninguém sabia de nada, era um amontoado de bagunça.
            Quando notei que não existia segurança alguma e que eu estava numa tremenda enrascada fiz o que achei certo, conversei com o pessoal que estava no mesmo estábulo que eu e concordamos que seria o melhor ficamos todos juntos.

Acordei tarde com o som de pessoas e máquinas, ao longe o som do palco sendo montado, apesar de passar das 11:00 fiquei curioso, já que a primeira banda estava marcada para tocar ás 10:30 de Sexta. Um pessoal andava  por ali, agentes do PROCON e da vigilância sanitária disseram ter dado um prazo para a organização adequar o camping para o evento. A partir daí, as coisas começaram a andar, e uma fina, porém curta fumaça de esperança surgiu. Os banheiros foram higienizados e um grande galpão com 5 banheiros foi aberto do outro lado do camping, um pouco longe das barracas mas tudo bem. Cada banheiro tinha cerca de 10 chuveiros que sinceramente foi a única coisa que me deixou confortável.
            Meio dia e nada de show, as pessoas reclamavam do mercado por não ter produtos que realmente fossem necessário, o palco terminava de ser montado quando fui ver as noticias sobre o evento e me deparei com um monte de bandas cancelando suas participações no evento, o fio de fumaça desaparecia.
            Fui até a entrada do evento trocar meu bilhete pela pulseira  de acesso  e fui surpreendido pela desordem e pelo despreparo dos membros de apoio que ali estavam presentes. Um tremendo caos.
Foto: Alesson Campos/ Exciter

             Depois de sair do evento para almoçar e me arrumar para o evento começou o primeiro show do dia.  Exciter! O Show do Exciter foi simplesmente empolgante do ínicio ao fim, mas infelizmente com a falta de estrutura e organização fiquei extremamente preocupado com meus pertences e então minha atenção ficava dividida entre o palco e o camping que não eram próximos.
Foto: Alesson Campos/ Destruction

            Os shows que sucederam o do Exciter na sexta-feira – oito de 14 que faltavam – serviram de alento. A plateia reagiu com entusiasmo ao  Almah, com discurso patriótico do Edu Falaschi. Os israelenses do Orphaned Land , e ao veterano e curioso trio canadense Anvil (durante a apresentação, o baixista bebia recorrentes goles de isotônico; e o baterista tocava usando pochete), e o Shaman.
Foto: Alesson Campos/ Exodus
            Os destaques foram os três shows seguintes: Destruction, Exodus e Symphony X. Antes do primeiro, aliás, veio novo exemplo da desinformação de que a audiência era vítima. Enquanto os presentes se aglomeravam diante do palco Cliff Burton, ouviram-se sons do ronco de uma moto vindos do palco Ronnie James Dio, ao lado. Era o Destruction sendo anunciado, o que fez todos se deslocarem apressadamente para a esquerda, em bloco. 

Por fim, veio o prato principal da noite, a banda Megadeth. Foi um show sofrível. Prevista para 23h45, a apresentação só foi começar à 1h35 já de sábado (21). Terminou 40 minutos depois, com interrupções e som péssimo. Com impressão pouco favorável, terminava o primeiro dia de atividades do Metal Open Air.  Fiquei mais empolgado com tudo, pelo visto, pelo menos algumas bandas tocariam, mas não foi minha realidade, no Sábado, passamos o dia todo sem nada para fazer  no camping, sem nenhuma das atividades programadas obedecidas, somando o atraso das bandas de Sábado, o tédio reinou e a certeza de que o Metal Open Air era uma furada também.
            
Após uma alteração radical sem critérios divulgados, entrou em cena, às 18h, a banda Ácido, de São Luís. Seguidos pelos meus conterrâneos de Brasília, o  Dark Avenger, e posteriormente o  Legion of the Damned que fez um show que eu nunca mais vou esquecer na vida  o encerramento ficou por conta do Korzus que tocou divinamente com direito a discurso contra a falta de organização e elogios ao público que resistiu arduamente até aquele momento. Simplesmente lamentável para o publico, lamentável para os maranhenses que esperavam com isso elevar a moral de sua querida capital no cenário metal brasileiro.
            
           Após o show e o anuncio de cancelamento do festival (que ficou exposto apenas na mídia pois nada foi falado para os presentes, talvez por medo de revolta). Nesse momento todos paramos para conversar e decidimos que o melhor era correr atrás do prejuízo de forma legal, depredar o local seria loucura, perderíamos a razão e poderíamos transformar uma situação lamentável e trágica. Diferente do que pensam, o publico headbanguer agiu pela razão, não como animais irracionais que muitos acreditavam ser, digo isso pois assim que a situação se concretizou como fracasso até a tropa de choque estava presente no local. A revolta toma conta sim, é frustrante, é humilhante, viajar mais de 1000km se hospedar de forma precária e ainda assim sofrer com a tremenda falta de respeito para com todos. O público, razão e motivo do evento existir, ficaram entregues ao nada, nem ao menos uma explicação, nem ao menos um indicativo, um por que. 

Triste fim ao que deveria ter sido o maior festival de metal do Brasil, triste mesmo...



Por Alesson Campos.

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