segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Tarja Turunen: Com carreira solo consolidada

Tarja se livra dos tempos em que era vocalista do Nightwish e voa livre. Fotos: Daniel Croce.

Show de emoção e interatividade: a simpatia de Tarja envolve o público, que responde na mesma moeda
Ninguém falou que seria fácil. Nem que seria rápido. Foi preciso três discos solo para a soprano Tarja (ex-Turunen) se firmar no mundo do rock. É esse o resumo da ópera – e bota ópera nisso – do show da cantora neste domingo, no Circo Voador, no Rio. E olha que, no segundo bis, enquanto Tarja se faz de desentendida, o público ainda grita por hits do grupo como “Wishmaster” e “Nemo”. Em vão. Em quase duas horas de uma apresentação vibrante na maior parte do tempo, Tarja tasca nada menos que sete músicas de seu disco mais recente, “Colours In The Dark”, lançado no ano passado, e inclui apenas duas – ninguém é totalmente de ferro – do repertório do Nightwish.

Quase 10 anos após ter sido despejada de um abrigo seguro, Tarja hoje é outra pessoa, outra artista. Foi-se aquela cantora soturna, tímida até, que veio ao Brasil pela primeira vez há 14 anos e mal sabia se comportar em um palco, a não ser batendo cabeça e fazendo o “Moloch” com os dedos. Hoje, amadurecida também pela maternidade, é uma performer solta que tem seus próprios passinhos de dança – um charme desajeitado, mas ainda assim um charme - e adota um estilo interpretativo, com forte gestual que dialoga com o público. E, também, tem um repertório mais consolidado e uma banda com músicos mais simples, porém eficientes, em que pese a chamativa presença do baterista Mike Terrana, só menos aplaudido a própria Tarja. Por isso o choro por músicas do Nightwish nem foi tão grande assim; o repertório próprio segura facilmente a plateia.

Tarja e sua banda em ação, com integrantes mais discretos, mas ao mesmo tempo super eficientes
Entre as músicas novas, “Neverlight” e “Deliverance” são as que se saem melhor ao vivo. A primeira porque Tarja solta a voz de soprano de modo cristalino em meio as boas guitarras de Alex Scholpp e Julian Barret (sim, são dois!), e o refrão cola no gogó da plateia. E, a segunda, graças ao drama contido na canção, que empurra a performance para um crescente pomposo e grandiloquente de emocionar. Tarja é do tipo que pega emoção fácil, e logo se diagnostica o que se passa com a cantora no palco. Quase vai às lágrimas ao cumprimentar o público em bom português, antes de “500 Letters”, a segunda da noite, e em “I Walk Alone” chega a levar as mãos aos olhos na tentativa de se conter. Pode chorar, Tarja, a ideia não é essa mesmo?

Nessa fase “soltinha”, Tarja se divide basicamente em dois modos de cantar. Um é usando o tom soprano vocacional, e o outro é como cantora de rock e música pop. Acaba se saindo bem nos dois e a ordem em que as músicas é concatenada contribui para que nenhum dos modos prevaleça completamente. Mas no bojo do show o que realça mesmo são as músicas do segundo álbum, “What Lies Beneath”, disparado o melhor dela. Assim, a pérola pop “Until My Last Breath”, de esqueleto idêntico ao de “Nemo”, do Nightwish (não dá pra não citar) reforça um bonito dueto com o público; “Falling Awake” e seu ótimo refrão tem como bônus um convincente gestual da cantora e um contagiante duelo de guitarras no final; e em “Little Lies” Tarja chega a propor uma performance aeróbica até desnecessária, mas que fica bonito, isso fica.

A bela e a fera: Tarja solta o vozeirão com o batera Mike Terrana, o número 2 da companhia, ao fundo
O lado soturno aparece na cover para “Darkness”, de Peter Gabriel, cujo título já diz tudo, e que mostra o total desconhecimento da plateia, e em “Anteroom Of Death”, com mais vocal de soprano despejado, em meio a outro refrão grudento; não é que ela tá realmente aprendendo a lidar com o pop? O show também perde o pique por conta de muitos intervalos com falas e introduções pré-gravadas que nem sempre entram no tempo; Tarja usar três figurinos incluindo o microfone, uma de suas marcas. Mas o grande acerto é o bis, muito bem sacado, com a esquisita, mas boa “Victim Of Ritual” e um showzinho particular de Terrana; “I Wish I Had An Angel”, que ganha novos tons sem os vocais masculinos; a já citada “Until My Last Breath”, coisa linda; e “Over The Hills And Far Away”, é bom que se lembre, do mestre Gary Moore. Voa, Tarja. Voa alto!

Tarja e o buquê de rosas que recebeu de um fã
Set list completo
1- In for a Kill
2- 500 Letters
3- Little Lies
4- Falling Awake
5- I Walk Alone
6- Anteroom of Death
7- Never Enough
8- Jam instrumental
9- Darkness
10- Neverlight
11- Mystique Voyage
12- Die Alive
13- Deliverance
14- Medusa

Bis
15- Victim of Ritual
16- Wish I Had an Angel
17- Until My Last Breath

Bis
18- Over the Hills and Far Away

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