quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

SLASH FALA SOBRE JIMI HENDRIX


Enviado por: Bernardo Marcondes
Traduzido por: IMPRENSA ROCKER
Fonte: The Quietus

O website “The Quietus” conduziu uma extensa entrevista com o icônico guitarrista Slash, que falou sobre o guitarrista mais influente da história: Jimi Hendrix.
Confira abaixo a entrevista na íntegra, em português, com exclusividade no IMPRENSA ROCKER! 
Por qualquer ângulo, Saul Hudson tem vivido uma vida mágica. Como parte de uma das maiores bandas do mundo, ele se tornou um ícone por seus próprios méritos, e desde então já tocou com Michael Jackson, Bob Dylan e Ray Charles.
Ele sobreviveu anos à deriva num oceano de Jack Daniels e à ridícula gestação do “Chinese Democracy” do Guns n’ Roses (no qual ele não fez parte), mantendo sua reputação mais ou menos intacta.
Enquanto que os méritos artísticos em aparecer no “American idol” ou em ser imortalizado como um personagem de video game talvez estejam abertos para debate, parece que o lugar de Slash no panteão do Rock está muito bem seguro.
Quando conversei com ele, ele foi afável, entusiástico e louco para falar sobre a duradoura influência de Jimi Hendrix – um ídolo dele que não foi abençoado com tal longevidade.
Você nasceu na Inglaterra. Sua mãe fazia o figurino de David Bowie e seu pai fazia capas de discos para gente como Neil Young. Você deveria ser bem novo na época, mas alguma vez você encontrou Hendrix pessoalmente?
Nunca, mas minha mãe e meu pai eram do Rock n’ Roll, e especialmente meu pai me criou com o Rock inglês, você sabe, The Kinks, The Yardbirds, Stones e Beatles.

Então este foi o cenário da minha infância. Na verdade eu não conhecia Jimi até me mudar para Los Angeles, e de repente havia Hendrix, The Doors, The Mamas and The Papas, Starship – aquela coisa toda que estava acontecendo. E Jimi era excitante. Ele era a personificação daquele guitarrista selvagem e elétrico.
Você se lembra da primeira vez que o escutou?
Não especificamente, mas na nossa casa, em “Laurel Canyon”, era algo que lembro estar sempre na nossa radiola – o primeiro disco do Hendrix Experience. “Purple Haze” e “Light My Fire” estão bem enraizadas na minha memória.

O que foi que fez ele se destacar? Quando penso nos guitarristas que talvez tenha uma influência audível na forma como você toca, eu diria que é Page, Perry e talvez alguns dos Punks ingleses. Como Jimi entra nisso?
Provavelmente de forma subconsciente, porque eu só me tornei um guitarrista mais tarde, e olhando para quando peguei uma guitarra pela primeira vez, eu percebo que sempre fui focado em música guiada pela guitarra – eu sempre esperava pela entrada da guitarra.

Eu acho que a atração por Jimi era porque ele tinha este estilo fluido e desinibido que basicamente berrava. Tinha aquele som de primeira linha que meio que me atraiu. Eu acho que todos os meus guitarristas preferidos tem uma certa característica maníaca.
Tem alguns discos preferidos?
De Jimi, os dois primeiros discos. “Axis: Bold as Love” é o meu álbum de Hendrix preferido. Sou fã de “Little Wing”. “Voodoo Chile” é ótima, e sua versão ao vivo de “Machine Gun”.

Do “Live at The Filmore East”?
Yeah! O “Live at The Filmore East” é inacreditável. Na verdade, nunca tinha o escutado até os 14 anos.

Eu fico imaginando a extensão do que lhe interessa no mito Hendrix – a mística de sua personalidade.
Lembro de quando era um garoto, provavelmente aos 13 ou 14 anos, e havia um filme de Hendrix que costumava passar nos fins de semana, junto com o “The Song Remains The Same” e “The Rocky Horror Picture Show”, e Steven Adler e eu costumávamos entrar escondidos, nos chapar e ficar assistindo a estes filmes.

Definitivamente há uma fascinação pela personalidade de Hendrix – seu comportamento – que parecia muito, muito cool. Eu não acho que você possa ser muito mais cool do que Jimi Hendrix..
Quando penso sobre Jimi agora, começo a pensar em como era ser um rockstar em 1967 ou 1968. Devia ser uma época bem selvagem, porque tudo era tão novo e primitivo, e todo mundo estava vindo de um lugar tão diferente, mentalmente. Havia acontecimentos políticos que tinham grande influência na cultura jovem, e os garotos tentando segurar a vida e o futuro em suas próprias mãos.
O grande lance sobre as drogas na época, em minha opinião, é que era algo que os garotos estavam usando porque, primeiro, era divertido; e era uma experiência, e meio que era só deles, além do fato de que os adultos odiavam e “O Homem” odiava – não havia o tipo de tabu que há hoje, e havia toda esta experimentação, porque também havia um grande movimento.
Jimi estava na linha de frente daquele jeito de tocar, que mais tarde se seria considerado como guitarra psicodélica. Deve ter sido uma viagem estar perto deles – ser um músico e escrever e criar discos naquela cena, e isto é algo que me fascina com relação aos artistas daquele período.
Eu fui criado nisso – sou um resultado daquela cultura. Nascer na Inglaterra, de um pai inglês e uma mãe negra, é o máximo de anos 60 que se pode ser. Meus avós estavam devastados!
Obviamente Hendrix nasceu nos Estados Unidos, mas foi na Inglaterra onde ele primeiro conseguiu um sucesso significativo. Você meio que é o oposto, apesar de não ter vivido tanto tampo na Inglaterra, antes de se mudar para os Estados Unidos. Você sente algum tipo de empatia por Hendrix por causa disso? 
Para mim, especificamente se não fosse pelo… Estou tentando pensar de uma forma mais sutil de colocar isto, mas não consigo. Esta coisa do cruzamento… Se eu não tivesse nascido na Inglaterra e se meus pais não tivessem ficado juntos do jeito que ficaram, eu não seria quem eu sou.

Eu acho que foi muito importante eu ter aquela influência de crescer na Inglaterra naquele período, e misturar as coisas quando me mudei para os Estados Unidos, com tudo que estava acontecendo por lá. Isto teve um grande impacto em quem eu acabei me tornando.
O lance sobre Jimi é que ele nasceu nos Estados Unidos com um talento vindo dos céus, mas foi descoberto por uma turma inglesa que levou ele para Londres, onde tudo estava acontecendo e eles o apreciaram por quem ele era.
É um tanto engraçado, porque você pensa em todos os grandes guitarristas que estavam surgindo na época… Basicamente os guitarristas ingleses eram um bando de garotos brancos que queriam ser negros e tocar aquele tipo de som, e então há este garoto negro vindo dos Estados Unidos que meio que traz a coisa completa de lá e todo mundo fica, “uau”! Todo mundo estava tropeçando em Jimi, que realmente é a personificação daquele jovem guitarrista, usando muita distorção, muito feedback… Deve ter sido bem interessante ser, por exemplo, Jeff Beck, na época.
A representação de Hendrix como parte daquela cena, ou certamente minha percepção da coisa, é que ele era um cara realmente inocente, que foi puxado pelas drogas e hedonismo. Você, talvez mais com o Guns n’ Roses, foi retratado também como adepto do hedonismo. Era uma decisão consciente se mostrar daquela forma – ou aquilo era apenas como você era? 
Eu realmente não prestava muita atenção. Eu apenas achava que éramos totalmente normais. Reconhecidamente, nós tinhamos uma certa quantidade de atitude e um certo modo de fazer as coisas, mas basicamente apenas estávamos sendo nós mesmos. Eu acho que naquele ponto em particular, não haviam muitas pessoas – entre meados e fim dos anos 80 – que não se adaptavam ao status quo. Muito daquilo era verdade, mas eu acho que eles passaram muito tempo focados naquilo, porque talvez a mídia achasse que era rentável.

É engraçado, porque eu nasci na cultura das drogas. Não vou falar em nome de nenhum dos outros caras – todos têm razões diferentes para fazer o que fazem – mas para mim, pessoalmente, não tinha nada a ver com os rockstars anteriores a mim. Eu não havia lido sobre isto nos livros. Não fui influenciado por Sid Vicious, Keith Richards ou Jimi Hendrix com relação ás drogas e todo aquele tipo de merda – era apenas parte do meu crescimento natural.
Eu não soube sobre os hábitos químicos dos diferentes músicos e artistas até mais tarde quando fui para a estrada, e então descobri que tal pessoa estava lutando e tinha sérios problemas de vícios e tal. Isto se tornou meio que um consolo – você não se sentia tão culpado por ter todos aqueles problemas, porque alguns dos seus rockstars preferidos tinham os mesmos problemas, mas isto não teve uma influência em como nós nos mostrávamos, ou como eu me mostrava especificamente, então toda a atenção dada a nós sempre pareceu um pouco como… Não sei como dizer. As pessoas estavam chocadas com aquilo, o que provavelmente também nos chocou um pouco.
Hendrix começou como um músico de apoio, tendo tocado na banda de Little Richard antes de ser expulso por ofuscar o frontman. Há uma tensão natural entre u guitarrista extravagante e um carismático cantor?
Eu acho que provavelmente Jimi estava procurando descobrir quem ele era e fazendo qualquer show que podia. Ele provavelmente era bem extravagante em sua mente de qualquer forma, e apenas recebeu a oportunidade de ser quem ele queria ser.

Ele ganhou aquela aceitação em Londres, por causa de toda aquela viagem psicodélica que estava acontecendo lá de forma massiva – isto foi a base da coisa toda, o que é bem interessante quando você pensa a respeito. Se tivesse recebido metade desta chance, tenho certeza de que teria conseguido nos Estados Unidos, mas aquele espírito, num nível criativo, não existia da forma que era na Inglaterra.
Obviamente a carreira de Hendrix foi abreviada, e ele deixou pouco material – suponho que ninguém realmente sabe do que ele era capaz. Com o Guns você atingiu um sucesso extraordinário numa idade bem jovem, e então pareceu que você poderia ir pelo mesmo caminho que Hendrix, ou ao menos você foi retratado desta forma. Você é grato por ter conseguido o tanto que conseguiu?
Bem, considerando tudo, no meu caso foi apenas meio que uma sorte idiota, porque toda hora que eu acabava no mesmo estado físico que Jimi poderia ter estado, eu conseguia sair. Ainda estou aqui. É uma espécie de acidente estranho por si só.

Além de ser a apenas a paixão em tocar e o desejo de me manter fazendo música. Provavelmente eu tenho mais amor pelo o que faço agora do que tinha quando comecei, então isto é o que mantém a coisa em frente.

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